Diz-me Como Geres e Dir-te-ei Quem És

Diz-me Como Geres e Dir-te-ei Quem És

Caro Scrum Master/Team Manager/Team Leader/Sprint Master,

Antes de mais deixa-me dizer que te respeito. Imenso. Mas há que pôr os pontos nos is: o respeito mútuo faz parte da convivência entre seres humanos; mas lá porque te respeito, não significa que te deva submissão total ou me reduza à minha pobre, triste e diminuta insignificância quando falas, opinias ou simplesmente mandas uns bitaites.

Compreendo que o teu trabalho, e os frutos que dele resultam, tenham um sabor agridoce: passas esquecido nas grandes vitórias e és espezinhado quando as coisas dão para o torto. Não duvido que gostes do que fazes e acredito que os zums-zums que ouves no corredor, questionando “o que é que ele faz? Qual é o papel dele? É que eu ainda não percebi muito bem…”, te incomodem.

Agora, quando as pessoas que geres têm medo de fazer o que quer que seja, algo está mal. Quando a maneira mais fácil da tua equipa conseguir ter a tua atenção é através de um e-mail, algo está mal. Quando perco a motivação para o projeto porque não confias em mim (nem na equipa) e nas nossas capacidades para o levar a bom porto, não estás a fazer o teu trabalho.

Eu compreendo que os teus 10 ou 15 anos de experiência te permitam antever problemas que um “caloiro” como eu, com pouca ou nenhuma experiência, teria dificuldades em ver. Mas pedires para escalonar um projeto de vários meses em tarefas de 4 horas, não estás a reduzir riscos e muito menos a antecipar problemas. Estás a ser retardado. Só isso.

Se não confias em nós para realizar o projeto, então diz-nos isso. Com transparência. E se não confias em nós para realizar o projeto, garanto-te que também não confiámos em ti para o gerir. Tal como o respeito, a confiança (ou a falta dela) também é mútua. E ambas se cultivam. Mas leva tempo… e paciência.

Transmitir confiança não é gritar connosco durante meia hora e no fim exclamar “vocês conseguem!”. Se queres transmitir confiança não te fiques só pela crítica. Apresenta soluções. Delega tarefas. Não nos digas por alto como se faz. Demonstra-o. Lidera pelo exemplo.

Se me permites que te aponte o dedo mais uma vez, não te auto-intitules Scrum Master quando, diariamente, violas os princípios mais básicos do Agile Manifesto. Faz-me alguma confusão. E deveria-te fazer ainda mais confusão a ti, dado que ou tu ou a equipa não fazem ideia do que significam tais conceitos. Seja qual for, continuas a fazer mal o teu trabalho.

Se parasses para te olhares ao espelho, irias reparar que foges do Agile como o diabo da cruz. Ainda te achas Scrum Master?

Desculpa-me estar a insitir, mas acho quero deixar bem claro: se o trabalho que desenvolvi não superou o teu standard de qualidade (e eu aceito isso de ânimo leve), não digas que preciso de mais tempo para pensar e refletir no assunto. Ajuda-me, dá-me luzes, encaminha-me numa direção. Já nem peço que sugiras soluções, apenas rogo que apontes o que pode ser melhorado. Não sejas vago. Critica, mas critica objetivamente. Com clareza.

Não leves tudo o que disse a peito. Comecei este desabafo a falar em respeito e assim o termino. O respeito está lá, em menor quantidade, mas existe. Não sou pessoa de guardar rancor. Mas também não digo religiosamente amén a todas as tuas doutrinas.

E sim, continuo a aprender contigo, diariamente, coisas boas e más. O que me leva a pensar que, se calhar, até estás a fazer bem o teu trabalho.

Cordialmente,

Um Engenheiro de Software

P.S.: Se marcas uma reunião para discutirmos um documento, por favor, tira 30 minutos antes para realmente leres a porra do documento!

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