Faz tempo tive algumas conversas bastante interessantes acerca do mercado de trabalho e de como funcionam os “processos de recrutamento”. Nos próximos parágrafos vou reproduzir alguns pontos mais interessantes e que geraram alguma discussão.
Todos nós conhecemos os processos de recrutamento para uma empresa estabelecida no mercado, de média/grande dimensão: inicialmente somos postos à prova numa (ou mais) entrevistas comportamentais, onde o candidato e a empresa têm oportunidade de se conhecerem melhor.
Primeira discórdia: “para essas entrevistas não me costumo preparar porque… eu sou eu, eu sei quem sou”.
Discordei. Fazer uma simples pesquisa, no website da empresa, para absorver a informação que eles têm disponível é uma ideia bastante eficaz, principalmente por duas razões: primeiro porque gosto de compreender o que a empresa faz, em que mercado opera e se o que fazem me interessa particularmente; segundo (e mais importante) porque transforma o típico “bombardeamento” de perguntas para uma conversa entre duas pessoas. Ter um conhecimento relativamente sólido da informação que a empresa tem no seu website (em que mercados opera, que tecnologias usa, os produtos/serviços que vende e respetivos nomes, entre outros) dá-nos o poder de “tomar as rédeas da conversa”.
Esta pesquisa prévia traz, como vantagem imediata, a capacidade de dialogar, ao invés de nos limitarmos a responder a questões. E isto, na minha opinião, não só é positivo na medida em que o entrevistador fica com uma imagem nossa positiva, como também nos permite filtrar todo o ruído a que somos expostos (a utilização de palavras cuidadas, apelativas, “charmosas”) e focarmo-nos naquilo que realmente é essencial.
Segundo ponto de discussão: “a empresa X até é interessante, mas eu não compreendo nada do negócio deles e, portanto, nunca vou conseguir subir na carreira”.
Não podia discordar mais. Sim, tenho perfeita noção que “subir” na carreira normalmente implica menos trabalho técnico e mais trabalho de gestão, mas não gosto de considerar isso uma fatalidade da ascensão e reconhecimento profissional. Existem, certamente, pessoas que ficarão contentes por a progressão na carreira implicar um salto da zona técnica para uma área de gestão, mas isso não significa que por se continuar numa área técnica não seja possível existir progressão na carreira. E mais: não tenho dúvidas que em qualquer uma das duas opções, seja necessário compreender sempre a área de negócio, a tendência de mercado, etc. Portanto, de qualquer uma das formas, a necessidade de conhecimento da área de negócio é inevitável.
Imaginemos que queremos seguir uma vertente técnica. Ao sermos “promovidos” para um nível de gestão, como nos sentiríamos? Seria uma promoção? Ou uma despromoção? Sentir-me-ia confortável em transitar para uma posição que não desejo, só porque é considerada a “normal ascenssão de carreira”?
No final de contas, acredito (e espero daqui a uns anos confirmar isto) que existe progressão quer na vertente técnica, quer na vertente de gestão, permitindo-nos, a cada um de nós, focar-se naquilo que realmente gosta de fazer. Basta gerir as nossas expectativas.